Quarta-feira, Janeiro 22, 2025
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    “Sinto o rostinho dele”, afirma indígena com deficiência visual que pariu no Hospital Materno-Infantil de Ilhéus

    Com as mãos ainda trêmulas, ela alisa o rosto do filho que acabara de nascer. Os olhos enchem de lágrima e, emocionada, ela sentencia: “Sinto o rostinho, cada detalhe dele. Bryan parece com a minha segunda filha, Mohana”. O depoimento é da indígena tupinambá Jéssica Rocha do Nascimento, de 32 anos. Há 12 anos ela perdeu totalmente a visão em um acidente de motocicleta, na BR 101. Um traumatismo craniano irreversível, com oito lesões, lhe afetou o nervo ótico, o que fez com que parasse de enxergar.

    Bryan, nome escolhido pelo pai, cujo significado é “homem honroso e vitorioso”, nasceu nesta quinta-feira (02), no início da tarde, no Centro de Parto Normal (CPN) do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, acolhido e acompanhado por toda uma equipe de profissionais. “Durante o pré-parto, confesso que eu estava muito apreensiva, com medo. Quando entrei neste quarto, a atenção das meninas, o acolhimento… Mais de uma pessoa te monitorando. Passa a ser algo mais que profissional. É de afinidade, de um carinho imenso, do início ao fim” elogiou Jéssica, afirmando que este tratamento ela teve “da recepção à obstetra”.

    Alto risco

    Moradora da comunidade do Jairi, em Olivença, onde fica a aldeia liderada pela Cacique Valdelice Tupinambá, logo que soube da terceira gestação Jéssica iniciou o pré-natal, acompanhada pela equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), ainda na própria aldeia. Com um tempo passou a sentir a necessidade de ser acompanhada mais de perto do local do parto, no ambulatório do HMIJS, que funciona para atendimento a gestantes de alto risco. “Tinha históricos preocupantes das outras gestações e, aqui, fui ganhando a confiança que precisava”, assegura.

    Saudável, Bryan deve receber alta nas próximas horas. A aldeia está em festa e aguarda com expectativa a chegada de mais um parente. “São muitas coisas que precisam mudar quando a família cresce”, afirma uma emocionada Jéssica. “Estou feliz falando com as amigas da aldeia. Elas vão arrumar minha casa e quero chegar em casa com tudo bonitinho”, destaca entre um sorriso e mais uma passagem de mãos no rostinho de Bryan. “Nossa, ele é muito parecido com Mohana”, comenta mais uma vez.

    Referência

    O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é o único da Bahia com atendimento especializado aos Povos Indígenas. Na unidade já nasceram mais de 350 bebês indígenas das etnias tupinambá, pataxó e pataxó hã-hã-hãe, aldeiados no sul e extremo sul do estado. O hospital tem 105 leitos de internação, sendo 10 de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo) e 25 de semi-intensiva; capacidade para atender urgências e emergências de toda a região; além de cinco leitos no Centro de Parto Normal Intra-hospitalar. Está estruturado para a assistência ao parto de risco, gestação de alto risco, cuidado intensivo e intermediário neonatal e cuidado intensivo e clínico às crianças. O funcionamento é 24 horas, com acesso por demanda espontânea e referenciada, integrada aos pontos de atenção primária.

    A unidade tem porta aberta de maternidade, leitos de UTI neonatal e semi-intensivo, leitos de canguru e centro de parto normal. Para além disso, a unidade pediátrica consta de 23 leitos e mais 10 leitos de UTI pediátrica, que são 100% regulados. Além da realização de partos e da internação, o hospital oferta atendimento ambulatorial especializado em pré-natal de alto risco, consultas especializadas em obstetrícia, cardiologia, enfermagem, nutrição e psicologia. A unidade funciona também como um polo de desenvolvimento de ensino, reunindo formação acadêmica, pesquisa e produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde.

    SESAB

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